terça-feira, 4 de maio de 2010

Proposta de exercícios Psicomotores na intervenção nas Dificuldades de Aprendizagem

1º Exercício: Pintar

- Solicita-se à criança que colore um desenho, seleccionado pela técnica. De seguida, a criança deverá contar uma história exprimindo o que o desenho representa para si.

Objectivos:
- Desenvolver a criatividade;
- Desenvolver a praxia fina;
- Desenvolver a apreensão;
- Promover a comunicação verbal;
- Exprimir sensações e sentimentos;
- Desenvolver a criatividade;
- Promover a comunicação interpessoal.

2º Exercício: Colagem e picotar

- A criança deverá colar as partes do corpo, que estão recortadas, num desenho de um menino ou menina, fornecido pela técnica. De seguida, deverá picotar as extremidades do desenho até conseguir separar retirar o molde do corpo (o desenho também poderia ser recortado em vez de picotado).

Objectivos:
- Desenvolver a praxia fina;
- Promover a concentração;
- Desenvolver a preensão e precisão.

3º Exercício: Música

- A criança deve ouvir as músicas, de diferentes sons e ritmos, que a técnica coloca para tocar, e exprimir os seus sentimentos e pensamentos relativamente a cada uma.

Objectivos:
- Percepção de sons e ritmos;
- Exprimir sensações;
- Distinguir sentimentos;
- Desenvolver a criatividade.

4º Exercício: Escadas

- A criança deverá encontrar-se numas escadas, e segundo as instruções da técnica terá que descer e subir o número de escadas solicitadas.

Objectivos:
- Conhecimento de cima e baixo;
- Orientação espacial;
- Conhecimento dos números, das ordens (crescente e decrescente), da soma, da subtracção, entre outros.

5º Exercício: Arcos

- A técnica coloca quatro arcos no chão, posicionados de modo a formarem um quadrado. A criança deverá mover-se segundo as ordens da técnica (frente e trás, esquerda e direita).

Objectivos:
- Desenvolver as noções de frente, trás e esquerda e direita;
- Orientação espacial;
- Coordenação motora.

6º Exercício: Circuito

- A criança deverá ultrapassar um obstáculo saltando a pés juntos; de seguida, deverá caminhar em cima de um colchão estreito, equilibrando-se; depois terá que passar por baixo de um túnel; posteriormente saltar a pé coxinho em dois arcos; e por fim derrubar os pinos, com uma bola, que se encontram a uma distância de 2 metros.

Objectivos:
- Desenvolver a praxia global;
- Desenvolver o equilíbrio;
- Promover a dominância lateral;
- Desenvolver a coordenação óculo-manual;
- Desenvolver a precisão e a preensão.

Influência da Psicomotricidade nas Didiculdades de Aprendizagem

Sempre que se fala em Psicomotricidade o primeiro pensamento que vem à mente relaciona-se com a capacidade que o ser humano tem para executar um movimento e, por conseguinte, o desenvolvimento do corpo. Mas, na realidade, a Psicomotricidade é uma ciência que está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afectivas e orgânicas, sendo, deste modo, sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afecto.
A psicomotricidade é actualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e se materializa.
A educação psicomotora é fundamental na vida da criança, e está reflectida no histórico de vida do sujeito, podendo observar-se a partir daí, o desenvolvimento da criança, o seu relacionamento com o mundo, a sua interacção com as pessoas, a forma como pensa e como actua, expressando as suas sensações e sentimentos, e utilizando o corpo como instrumento rico e significativo para a comunicação.
Este trabalho inicia-se na Educação Infantil, onde as crianças ainda se encontram em fase de experimentações corporais, onde iniciam as descobertas espaciais, temporais e tónicas.
Todas as actividades devem trabalhar as bases psicomotoras, sendo estas: a tonicidade, a noção do corpo, a equilibração, a lateralidade, a estruturação espácio-temporal, a praxia global e a praxia fina. Estas devem ser inseridas e integradas de acordo com a faixa etária.
O desenvolvimento dos factores psicomotores, permite à criança uma melhora da postura, da dissociação dos movimentos, da coordenação global dos movimentos, da motricidade fina, do ritmo discriminação táctil, visual e auditivo, da integração das estruturas espaciais e temporais, do aumento da capacidade de atenção e concentração.
A educação psicomotora deve incidir, essencialmente, para crianças até aproximadamente os 7/8 anos de idade, sendo um período fundamental do desenvolvimento infantil, no qual a criança tem necessidade de agir e experimentar para adquirir o conhecimento, favorecendo a maturação psicológica por meio da motricidade, do agir e do brincar, que são a base do desenvolvimento do pensamento.

A Psicomotricidade nas Dificuldades de Aprendizagem pode trabalhar os seguintes factores, com os seus objectivos:
 Tonicidade: relaxação activa e passiva;
 Equilibração: equilíbrio estático e dinâmico;
 Noção do corpo: conhecimento do próprio corpo e do corpo de outrem; noções espaciais do próprio corpo e do de outrem; interiorização da imagem corporal; coordenação, caligrafia, leitura harmoniosa, gestual, ritmo de leitura (frase, palavra), imitação, entre outros;
 Lateralidade: identificação da dominância lateral; reconhecimento da direita e da esquerda; ordenação espacial, direcção gráfica, ordem das letras e dos números; discriminação visual; estruturação espácio-temporal; noções espaciais e temporais; estruturação rítmica; percepção visual e auditiva; identificação de ruídos e sons; identificação e combinação de letras e números (modalidades visuais, auditivas e cinestésicas); noções de esquerda e direita, alto e baixo (b / p; n / u; ou / on), dentro e fora (espaço para escrita: progressão/grandeza, classificação/seriação, orientação/cálculos);
 Praxia global e fina: perturbações do grafismo (motora fina); manipulação / preensão.

No que se refere à aprendizagem da leitura e da escrita, as relações existentes, entre estas e o aumento do potencial psicomotor da criança proporcionam condições favoráveis às aprendizagens escolares.
A aprendizagem da escrita é especialmente, um processo de relação perceptivo-motora, pois os sinais gráficos devem ser transcritos para o papel de forma organizada, seguindo o tempo e o espaço.
Pode-se concluir, portanto, que as contribuições da psicomotricidade na aquisição da pré-escrita estão relacionadas com o domínio do gesto, com a estruturação espacial e a orientação temporal que são os três fundamentos básicos da escrita, os quais supõem: uma direcção gráfica (escrevemos horizontalmente da esquerda para a direita); noções de cima e baixo (n e u); de esquerda e direita e de oblíquas e curvas (g); e noção de antes e depois.
A realização de exercícios de pré-escrita e de grafismo são necessários para a aprendizagem das letras e dos números, com a finalidade de permitir à criança atingir o domínio do gesto e do instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir. Esses exercícios são desenvolvidos através de actividades puramente motoras ou de grafismo.

Discriminação auditiva e Percepção visual

A discriminação auditiva é caracterizada pela capacidade para perceber as diferenças entre os sons da fala e para sequencia-los em palavras escritas. É uma componente essencial no que respeita ao uso correcto da linguagem e à descodificação da leitura.

A percepção visual caracteriza-se pela capacidade para observar pormenores importantes e dar significado ao que é visto. É uma componente crítica no processo de leitura e escrita.

Deficit de Atenção e Hiperactividade


O Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperactividade (TDAH) é uma condição neurobiológica e caracteriza-se por uma diminuída capacidade de atenção, impulsividade e hiperactividade, de acordo com o DSM-IV-TR, afectando crianças, adolescentes e adultos.

Alguns critérios de diagnóstico são apresentados seguidamente:

• Critérios de Desatenção: falta de atenção relativamente a detalhes e cometem erros por omissão nas actividades escolares, no trabalho e/ou outras; dificuldade para sustentar a atenção nas tarefas; não atendem quando lhes dirigem a palavra; não seguem instruções e não terminam os trabalhos escolares, as tarefas domésticas ou profissionais; tem dificuldade para organizar tarefas e actividade; facilmente distraem-se devido a estímulos alheios à sua tarefa e por vezes, esquecem-se das actividades diárias.

• Critérios de Hiperactividade: constantes movimentos das mãos e dos pés; tem dificuldade em brincar ou incluem-se silenciosamente em actividades de lazer e frequentemente falam em demasia.

• Critérios de Impulsividade: dão respostas precipitadas antes de serem completamente as perguntas; tem dificuldade em respeitar a sua vez; e interrompem ou interferem em assuntos que não lhes competem.

• Critérios Gerais: alguns dos sintomas de desatenção ou hiperactividade – impulsividade estão presentes antes dos sete anos de idade; presença de seis ou mais sintomas de desatenção e/ou seis ou mais sintomas de hiperactividade – impulsividade, que persistiram no mínimo por seis meses; algum comprometimento causado pelos sintomas deve estar presente em dois ou mais contextos (por exemplo, na escola, no trabalho, em casa); e deve haver uma clara evidência de distúrbio significativo no desenvolvimento social, académico ou ocupacional.

Dispraxia

Dispraxia é uma dificuldade na forma como o cérebro processa a informação, onde esta não é devidamente ou completamente transmitida. Afecta a coordenação dos movimentos, a atenção e a percepção. A Dispraxia pode ser detectada pelos constantes atrasos na consecução das tarefas motoras, como, deixar cair as coisas, revelar dificuldades com o equilíbrio, mau desempenho no desporto físico ou ainda na caligrafia. Na escrita, também podem demonstrar dificuldades com direccionalidade e na pressão do lápis sobre a página.

As crianças com Dispraxia apresentam: dificuldades de memória; dificuldades na escrita, devido à pobre aderência, a criança segura a caneta ou lápis desajeitadamente, assim, sua escrita torna-se muito confusa, não a executando de forma adequada, podem também, fazer inversão das letras, realizam escrita lenta e de difícil compreensão, sentem dificuldade em prestar a atenção ao que o professor está a falar e tirar notas ao mesmo tempo; dificuldades em realizar actividades motoras de precisão, de orientação espacial, tem dificuldades na apreensão de objectos, tendem a ser crianças desajeitadas, esbarram contra objectos e pessoas com frequencia, e tendem a estar muito cansadas no final do dia; sentem dificuldades em ficar paradas, tornando-se por vezes elementos perturbadores na sala de aula, distraem-se com facilidade, têm dificuldades de estruturação temporal e de ritmo; apresentam também, dificuldades na lateralidade (leitura da esquerda para a direita e na matemática sentem dificuldade em trabalhar da direita para a esquerda).

Discalculia


A discalculia é a dificuldade em lidar com cálculos, numerais e quantidades, dificultando as actividades de vida diária que envolvem essas habilidades e conceitos. Indivíduos com transtornos na matemática, têm a capacidade para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático substancialmente inferior à média esperada para sua idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade. É uma falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e símbolos matemáticos. Esta dificuldade está na base do reconhecimento do número e do raciocínio matemático e envolve a dificuldade na percepção, na memória, na abstracção, na leitura, no funcionamento motor e combina actividades dos dois hemisférios.
Em suma, a criança com discalculia é incapaz de:
• Visualizar conjuntos de objectos dentro de um conjunto maior;
• Conservar a quantidade, o que a impede de compreender que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas;
• Compreender os sinais de soma, de subtracção, de divisão e de multiplicação (+, –, ÷ e x);
• Sequenciar números, como, por exemplo, o que vem antes do 11 e depois do 15 (antecessor e sucessor);
• Classificar números;
• Montar operações;
• Entender os princípios de medida;
• Lembrar as sequências dos passos para realizar as operações matemáticas;
• Estabelecer correspondência um a um, ou seja, não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras; e
• Contar através de cardinais e ordinais.

Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:
• Dificuldade na memória de trabalho;
• Dificuldade na memória das tarefas não-verbais;
• Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefa de escrita);
• Ausência de problemas fonológicos;
• Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem;
• Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;
• Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-tácteis.

Segundo Johnson e Myklebust (1983), a discalculia classifica-se segundo seis tipos:
a) Discalculia Verbal – dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações;
b) Discalculia Practognóstica – dificuldade para enumerar, comparar e manipular objectos reais ou em imagens, matematicamente;
c) Discalculia Léxica – dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;
d) Discalculia Gráfica – dificuldades na escrita dos símbolos matemáticos;
e) Discalculia Ideognóstica – dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; e
f) Discalculia Operacional – dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.

Disortografia

Disortografia
A disortografia caracteriza-se por uma dificuldade da linguagem escrita e pode acontecer como consequência da dislexia. É muitas vezes, descrito como característico da disgrafia. Esse transtorno da escrita apresenta-se como uma persistência de trocas de natureza ortográfica (como ch por x, ou s por z, e vice-versa), aglutinações (de repente/derepente, tem que/temque), fragmentações (em baraçar), inversões (in/ni, es/se) e omissões (beijo/bejo).

Crianças com este tipo de dificuldade apresentam: atitudes de falta de interesse, limitações no conhecimento básico da acústica e estrutura das palavras, pobreza na fala, alterações da fala, escrita lenta e ilegível, dificuldade visual, discriminação auditiva insuficiente e baixo desempenho intelectual.

Disgrafia

A disgrafia encontra-se normalmente associada à dislexia. O aluno com disgrafia, faz trocas e inversão das letras e consequentemente apresenta dificuldade na escrita. Encontra-se associado a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização ao produzir um texto. A habilidade de escrita está abaixo do nível esperado para idade cronológica, escolaridade e inteligência, pode estar associada ou não ao transtorno de leitura.

Crianças com esta dificuldade podem apresentar: rigidez na escrita e dificuldade no controlo da mesma; escrita descontrolada, difusa e apresenta desorganização na página e escrita lenta. Estas características não se relacionam apenas com um distúrbio motor, mas também, com a fraca percepção das formas, com a desorientação no espaço e no tempo, com distúrbios de ritmo, envolvendo também, toda a motricidade fina.
Assim, disgrafia não pode ser diagnosticado apenas avaliando uma amostra de caligrafia. O técnico qualificado deve testar directamente o indivíduo. Esta avaliação inclui a escrita de frases livres, pela criança, copiar um texto apropriado à idade, entre outros, onde o técnico avalia não só o produto acabado, mas todo o processo, incluindo a postura, a posição, a pega do lápis, a fadiga, o tremor da mão que escreve, as dispraxias, e outros factores, ou seja, observa toda a motricidade fina da criança.

Dislexia


A Dislexia caracteriza-se, segundo a Associação Internacional de Dislexia, por uma incapacidade de aprendizagem de origem neurológica, traduzida por dificuldades na correcta ou fluente identificação das palavras e por fracas soletração e habilidade de descodificação, resultando de um défice na componente fonológica da linguagem que normalmente não seria de esperar em comparação com as outras incapacidades cognitivas e a frequência de um instrução escolar regular.

Principais sintomas: dificuldades na linguagem oral; a não associação de símbolos gráficos com as suas componentes auditivas; as dificuldades em seguir orientações e instruções; as dificuldades de memorização auditiva; e problemas de atenção e lateralidade. É importante salientar que a dislexia não implica baixa capacidade intelectual, bem pelo contrário. Esta apenas é diagnosticada a crianças que apresentam uma capacidade intelectual média ou, em muitos casos, superior à média.

Sinais de alerta na infância: atraso na aquisição da linguagem; dificuldades em pronunciar determinados sons e uma linguagem infantil; dificuldades em memorizar e acompanhar canções infantis e rimas onde os sons das palavras se podem dividir em bocados mais pequenos.

Sinais de alerta na idade escolar: lentidão na aprendizagem dos mecanismos de leitura e escrita; erros por dificuldades da descodificação grafema-fonema; dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas; bastantes dificuldades na leitura, a invenção de palavras e saltar linhas ao ler um texto; dificuldades na rima das palavras; escrita com muitos erros ortográficos e deficiente qualidade caligráfica; na leitura silenciosa consegue-se ouvir o que a criança está a ler; acompanha a linha da leitura com o dedo; demora demasiado tempo na realização dos trabalhos de casa; não revela prazer pela leitura e utiliza estratégias para não ler; facilidade de distracção perante qualquer estímulo; os resultados escolares não são condizentes com as suas capacidades intelectuais e tem melhores resultados nas avaliações orais; confunde a direita com a esquerda; revela-se bastante criativo e imaginativo, com bom raciocínio lógico e abstracto podendo revelar capacidades superiores à média noutras áreas.

Dificuldades específicas de Aprendizagem

• Dislexia
• Disgrafia
• Disortografia
• Discalculia
• Dispraxia
• Deficit de atenção e hiperactividade
• Discriminação Auditiva
• Percepção Visual

Tipos de serviços para alunos com Dificuldades de Aprendizagem

Todos os alunos com Dificuldades de Aprendizagem devem ter ao seu dispor um conjunto de serviços adequados às suas necessidades (Lei de Bases do Sistema Educativo e o Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto).
No que diz respeito a serviços educacionais na classe regular, há que considerar um conjunto de factores que podem facilitar a sua aprendizagem, entre eles: a reestruturação do ambiente educativo; a simplificação das instruções no que diz respeito às tarefas escolares; o ajustamento de horários; a alteração de textos e do trabalho de casa; o uso de tecnologias de informação e comunicaçao; e a alteração das propostas de avaliação. No que diz respeito aos serviços adicionais, há que poder contar com serviços de psicologia, de terapia da fala, de terapia ocupacional, clínicos e sociais, consoante as necessidades do aluno.

Características dos alunos com dificuldades de aprendizagem

Os alunos com Dificuldades de Aprendizagem apresentam as seguintes características:

No domínio cognitivo: os alunos com dificuldades de aprendizagem revelam uma inteligência média ou superior à média com problemas cognitivos específicos, de pensamento ou de processamento psicológico que se traduzem em recordar coisas, em discriminar ou diferenciar percepções auditivas ou visuais e em desenvolver ou utilizar estratégias cognitivas. Os problemas na memória auditiva e visual estão associados com as dificuldades de aprendizagem.
Os alunos com dificuldades de aprendizagem também apresentam problemas perceptivos tais como orientação esquerda-direita, diferenciação figura-fundo, discriminação de modelos, dificuldades na imagem corporal, reconhecimento simbólico.
Algumas estratégias, como por exemplo, a auto-verificação e auto-regulação que são desenvolvidas para o sucesso escolar estão ausentes nos alunos com Dificuldades de Aprendizagem. Falta-lhes o conhecimento destas competências, estratégias e passos necessários para resolver problemas ou completar tarefas.

No domínio escolar: mostram uma realização escolar fraca numa área especifica por exemplo leitura ou matemática que não se coaduna com as capacidades intelectuais que apresentam nos testes de inteligência.

No domínio da motricidade: estas crianças são mais desajeitadas do que os seus colegas e demonstram mais dificuldades principalmente na coordenação fina.

No domínio do comportamento: a incapacidade em prestar atenção às tarefas e a elevada percentagem de actividades aparentemente sem objectivo (hiperactividade – impulsividade) são características habitualmente associadas com Dificuldades de Aprendizagem. Os alunos com Dificuldades de Aprendizagem têm dificuldade em prestar atenção, em centrar a atenção e em manter a atenção. Alguns conceitos utilizados para descrever o comportamento das crianças com dificuldades de aprendizagem são: desatento, hiperactivo, impulsivo, sonhador, errático, disruptivo e imaturo. Muitas vezes não se sabe se estas características do comportamento são a causa de uma realização escolar fraca ou a consequência dela, porque muitos alunos sem dificuldades de aprendizagem exibem-nos. Estas características do comportamento estão também associadas com a perturbação com défice de atenção com hiperactividade o que torna às vezes difícil de estabelecer o diagnóstico diferencial entre dificuldades de aprendizagem e hiperactividade.
Os problemas escolares estão também relacionados com alguns problemas sociais que estas crianças apresentam como por exemplo, dificuldades interpessoais, problemas em estabelecer relações familiares, falta de competência social na escola e baixa auto-estima.

No domínio da comunicação: ao nível da pré-escola, os problemas da linguagem são as características mais comuns nos alunos com dificuldades de aprendizagem. Os professores habitualmente centram a sua atenção e os seus esforços nas dificuldades da linguagem oral.

Principais características da criança com Dificuldades de Aprendizagem

• Problemas de discriminação auditiva de vogais;
• Inadequada sequência fonema-grafema;
• Fraca associação auditiva e pobre completamento auditivo;
• Problemas de linguagem falada;
• Problemas de maturação nas funções da linguagem;
• Alguma eficiência visuoespacial;
• Problemas de lateralidade;
• Inversão de imagens e de letras;
• Inconstância configuracional e direccional;
• Dificuldade em associar factores verbais e conceitos direccionais;
• Dificuldades no ditado (integração audiovisual tactiloquinestésica motora);
• Fraco auto conceito.

Factores etiológicos das dificuldades de aprendizagem

Salientam-se os factores genéticos, os factores pré, péri e pós-natais e os factores neurobiológicos e neirofisiológicos como possíveis causas das Dificuldades de Aprendizagem:

 Factores genéticos:
O meio social pode actuar como facilitador do desenvolvimento, porém, a aprendizagem também é parcialmente herdada geneticamente. Para a reeducação das dificuldades de aprendizagem a contribuição genética para análise é indispensável. Assim, estes são factores ligados directa ou indirectamente aos efeitos dos genes, tendo em visto que o potencial de aprendizagem também é parcialmente herdado (verificação de todo e qualquer aspecto congénito que pode estar a interferir na dificuldade de aprendizagem).
Estudos comprovam um alto grau de agregação familiar reforça a influência genética das dificuldades de aprendizagem em vários casos, não deixando dúvidas de que a transmissão biológica dessa condição pode acontecer.

 Factores pré, peri e pós-natais:
Crianças cujas mães tiveram complicações na gravidez, no parto ou nasceram prematuras, aumentam a possibilidade de desenvolvimento de algum tipo de Dificuldades de Aprendizagem. Entre estes factores podemos citar: anoxia, prematuridade, condições maternas adversas tais como a diabetes, a anemia, o parto prolongado, eclampsia (manifestação da toxemia, uma hipertensão induzida pela gravidez). A toxemia é uma doença grave que se manifesta em geral na última metade da gravidez. Caracteriza-se por hipertensão, edema e proteinúria.

 Factores Neurobiológicos e Neurofisiológicos:
Considerando que a aprendizagem depende da organização neurológica do cérebro e sabendo que tal função depende dos factores genéticos é compreensível que alguns factores bioetiológicos sejam de natureza neurobiológica e neurofisiológica. Muitas crianças com dificuldades de aprendizagem não apresentam lesões no cérebro porém, a maioria as evidenciam.
Até aos três anos de idade, o cérebro aprende as aquisições mais cruciais que perduraram por toda a vida. A deficiência proteica pode nessa fase deixar rastros de perturbação tónica, falta de atenção, problemas de motricidade, hiperirritabilidade, instabilidade emocional e outros.
A maturação consiste nas trocas qualitativas, através do aparecimento de novas estruturas e funções.
Das estruturas que compõem o sistema nervoso, o mesencéfalo e a medula já estão quase desenvolvidas por completo no nascimento, sendo responsáveis pelas tarefas que os recém-nascidos executam (atenção, habituação, sono, vigília, eliminação e movimento da cabeça e pescoço). Já o córtex, responsável pela percepção, o movimento corporal, o pensamento e a linguagem, é a parte menos desenvolvida nos neonatos. Além disso, quase todos os neurónios e células gliais, tipos celulares básicos, também já estão presentes nos recém-nascidos. O desenvolvimento pós-natal proporciona-lhes, fundamentalmente, o desenvolvimento das sinapses e por consequência o crescimento das dendrites e dos axónios a nível do córtex. Este processo acontece, principalmente, até os dois anos de idade.
Há, portanto, uma reorganização neurológica em vários momentos do desenvolvimento, sendo resultado de experiências específicas, aquisição de novas habilidades, durante toda a vida.
As sinapses são fundamentais à aprendizagem humana, já que se constituem na conexão nervosa via impulso ou estímulo nervoso. O impulso pode ser transmitido de uma fibra nervosa para outra fibra nervosa ou de uma fibra nervosa para uma fibra muscular. Desta forma, uma fibra eferente ou motora conduzirá o estímulo a um músculo esquelético ou estriado, enquanto que a fibra aferente ou sensitiva conduzirá o estímulo ao sistema nervoso central. É então através das sinapses que o sistema nervoso envia informações a respeito dos músculos, dos tendões e das sensações corporais. A esse tipo de informação chama-se de cinestesia, essencial para o conhecimento corporal e para o movimento corporal.
A maturação do sistema nervoso é um processo fundamental para o desenvolvimento dos seres humanos principalmente graças ao aumento da bainha de mielina, membrana que reveste o axónio dos neurónios, aumentando a velocidade com que o estímulo nervoso é conduzido de um neurónio para outro. Esse processo é chamado de mielinização. À medida que a mielinização vai acontecendo, seguindo as leis céfalo-caudal e próximo-distal, a criança vai sendo capaz de controlar o seu próprio corpo e os seus movimentos, completando-se na adolescência. Através do desenvolvimento da mielina torna-se evidente que a maior velocidade de comunicação entre os centros de decisão e os centros de execução tem grande importância para a coordenação e respectivo controlo muscular.
Assim, é devido à maturação do sistema nervoso que obtemos as informações precisas acerca do mundo externo e interno, facto essencial à sobrevivência e aprendizagem humanas.
De todos os elementos que compõem o sistema nervoso, o córtex cerebral é um dos mais importantes, tornando a sua maturação um processo indispensável ao homem, onde chegam os impulsos provenientes de todas as vias sensitivas e onde são interpretadas. Do córtex saem os impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos voluntários e com ele estão relacionados os fenómenos psíquicos.
O neuropsicólogo Lúria (1977) propõe uma divisão funcional do córtex fundamentada no grau de relação com a motricidade, com a cognição e com a sensibilidade. As áreas directamente ligadas à sensibilidade e à motricidade, áreas de projecção, são chamadas de áreas primárias. As áreas de associação são divididas em secundárias e terciárias. As áreas secundárias ou unimodais são as que se relacionam indirectamente com uma determinada modalidade sensorial ou motora. As áreas terciárias ou supramodais são as que se relacionam com as actividades psíquicas superiores.
A imaturidade inicial do sistema nervoso manifesta-se na impossibilidade da criança pequena organizar as suas respostas de modo intencional. As vias aferentes estão mielinizadas e recebem a informação perceptual mas as vias eferentes não, devido a isto a criança não está em condições de organizar sua resposta. O córtex cerebral, é o local onde se localizam as funções superiores, e encontra-se bastante rudimentar na criança pequena, com isto, durante os primeiros meses e anos de vida, algumas células corticais novas são acrescentadas, as células ficam maiores e as já existentes estabelecem mais conexões entre si, deixando o cérebro mais pesado.

Dificuldades de Aprendizagem

As Dificuldades de Aprendizagem são um grupo heterogéneo de desordens de origem neurológicas, que se manifestam de diferente forma e diferentes graus, durante o período de vida de um indivíduo. Problemas como perturbações no comportamento auto-regulatório, percepção social e interacção social podem existir com dificuldades de aprendizagem mas não constituem por si só uma dificuldade de aprendizagem. No entanto, as dificuldades de aprendizagem podem ocorrer concomitantemente com outras condições deficientes, como por exemplo, dificuldade sensorial, atraso mental, distúrbio emocional grave, entre outros, ou outras influências extrínsecas, como, diferenças culturais, ensino insuficiente ou não apropriando, mas não são resultado destas condições ou influências. Os primeiros indicadores de que uma criança pode ter Dificuldades de Aprendizagem incluem: atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem, da leitura, da escrita, da matemática, da coordenação motora, da percepção, do raciocínio, da interacção social e de outras áreas relevantes para a concretização dos objectivos educacionais. Esta definição revela alguns aspectos importantes: refere-se a um conjunto variado de características, isto é, entre os sujeitos diagnosticados como tendo Dificuldades de Aprendizagem, podem ser encontrados subgrupos com deficits globais ou específicos, em relação a uma ou outra das aprendizagens ou instrumentos básicos (linguagem oral, leitura, compreensão, escrita, soletração, cálculo ou raciocínio matemático); refere-se às dificuldades intrínsecas ao indivíduo. Portanto, as Dificuldades de Aprendizagem não teriam origem em influências extrínsecas (condições familiares, escolares ou culturais...), sendo entendida como uma disfunção do sistema nervoso central. Apesar dessa postura de colocar em segundo plano as variáveis ambientais e valorizar o aspecto neurológico, Arbol e López-Arangurem (1995) destacam o processo contínuo de socialização que o ser humano vive a partir do meio familiar: “É no seio familiar onde a criança aprende a se relacionar, a descobrir, a iniciar seu processo de autonomia. É neste momento que tem início um desenvolvimento mais ou menos desajustado” As Dificuldades de Aprendizagem assumem ser um fenómeno extremamente complexo, abrangendo uma variedade desorganizada de conceitos, de critérios, de teorias, de modelos e de hipóteses. Estas incluem dois tipos de dificuldades: as dificuldades académicas e as dificuldades não académicas. As dificuldades académicas englobam as dificuldades na leitura, na matemática, na soletração e na escrita; e as dificuldades não académicas incluem problemas viso – motores, no processamento fonológico, na linguagem, na memória e problemas perceptivos

domingo, 2 de maio de 2010

Psicomotricidade


A Psicomotricidade é o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade, baseando-se numa visão holística do ser humano, encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras. Assume-se como “uma reeducação ou terapia de mediação corporal e expressiva, na qual o reeducador ou terapeuta estuda e compensa as condutas motoras inadequadas ou inadaptadas, geralmente associadas a problemas de desenvolvimento e maturação psicomotora, de comportamento, de aprendizagem e de âmbito psico-afectivo”.

Os objectivos delineadores mais específicos relacionam-se com: possibilitar a vivência da relação tónico-emocional com o psicomotricista através do corpo e do agir; ampliar a capacidade de comunicação; promover a auto-estima e facilitar a socialização; estimular a percepção corporal; facilitar a aceitação de limites e aumentar a tolerância à frustração.

A Psicomotricidade pode intervir nas seguintes vertentes:

· Técnicas de Relaxação e de Consciencialização Corporal: ao serviço da reelaboração do esquema e imagem corporal, da consciencialização e vivência tónico – emocional, com intencionalidade psicoterapêutica;

· Terapia e Reeducação Gnoso-práxica: organização planificada e interiorizada da acção e da sua representação através de formas diversificadas de expressão;

· Educação Gestual e Postural: reeducação da atitude, equilibração e controlo tónico;

· Actividades Expressivas: criação e transformação ao serviço da afirmação da identidade, da capacidade de comunicação e da exteriorização tónico – emocional das problemáticas, não susceptíveis de mediação primordial pela palavra;

· Actividades Lúdicas: a intervenção psicomotora desenvolve-se no contexto lúdico em dinâmica individual ou grupal.